quinta-feira, 26 de maio de 2016

Projeto Olímpiada Rio 2016: Mitologia Grega em Foco- "PÍRAMO E TISBE"




Píramo e Tisbe.
            Píramo era o mais belo jovem e Tisbe a mais formosa donzela, em toda a Babilônia, onde Semíramis reinava. Seus pais moravam em casas vizinhas, e a vizinhança aproximou os dois jovens e o conhecimento transformou-se em amor.
            Com grande alegria se teriam casado, mas seus pais proibiram. Uma coisa, contudo, não podiam proibir: que o amor crescesse com o mesmo ardor no coração dos dois jovens.
Conversavam por sinais ou por meio de olhares, e o fogo se tornava mais intenso, por ser oculto. Na parede que separava as duas casas, havia uma fenda, provocada por algum defeito de construção. Ninguém a havia notado antes, mas os amantes a descobriram. Que há que o amor não descubra?
A fenda permitia a passagem da voz, e ternas mensagens passaram nas duas direções, através da fenda. Quando Píramo e Tisbe se punham de pé, cada um de seu lado, suas respirações se confundiam.
 — Parede cruel! — exclamavam. — Por que manténs separados dois amantes? Mas não seremos ingratos. A ti devemos, podemos confessar, o privilégio de dirigir palavras de amor a ouvidos ansiosos por recebê-las.
Diziam tais palavras, cada um de seu lado da parede. E quando a noite chegava e tinham de dizer adeus, apertavam o lábio contra a parede, ela do seu lado, ele do outro, já que não podiam aproximar-se mais.
De manhã, quando Aurora expulsara as estrelas e o sol derretera a geada nas ervas, os dois encontraram-se no lugar de costume. E então, depois de lamentarem seu cruel destino, combinaram que, na noite seguinte, quando tudo estivesse quieto, eles escapariam aos olhares vigilantes, deixariam suas moradas, caminhariam para o campo. Marcaram, para terem certeza de se encontrar, um edifício bem conhecido, que ficava fora dos limites da cidade, era chamado o Túmulo de Nino. O que chegasse primeiro esperaria o outro junto de uma certa árvore. Era uma amoreira branca, próxima de uma fonte.
Tudo ficou combinado e os dois aguardaram, impacientes, que o sol se escondesse sob as águas e que a noite delas se levantasse. Então, Tisbe ergueu-se, cautelosamente, sem ser observada pela família, cobriu a cabeça com um véu, caminhou até o monumento e sentou-se embaixo da árvore. Enquanto estava ali sentada, sozinha, à luz difusa da noite, avistou uma leoa, que, com a boca ensanguentada por uma presa recente, aproximava-se da fonte, para matar a sede. Ao vê-la, Tisbe fugiu e refugiou-se numa gruta, deixando cair o véu quando fugia. A leoa, depois de saciar a sede na fonte, virou-se para voltar aos bosques, e, ao ver o véu no chão, investiu contra ele e despedaçou-o, com sua boca ensanguentada.
 Píramo, que se atrasara, aproximou-se, então, do local do encontro. Viu, na areia, as pegadas da leoa e o sangue fugiu-lhe das faces. Logo em seguida, encontrou o véu, dilacerado e cheio de sangue.
— Desventurada donzela! — exclamou. — Fui a causa de tua morte! Tu, mais digna de viver do que eu, caíste como primeira vítima. Eu te seguirei. Fui o culpado, atraindo-te a um lugar tão perigoso, e não estando ali eu próprio para guardar-te. Vinde, leões, dos rochedos e despedaçai com vossos dentes este corpo maldito!
 Apanhou o véu, levou-o até a árvore onde fora combinado o encontro, e cobriu-o de beijos e de lágrimas.
 — Meu sangue também manchará teu tecido — exclamou. E arrancando a espada, mergulhou-a no coração. O sangue esguichou da ferida, tingiu de vermelho as amoras brancas da árvore, e, penetrando na terra, atingiu as raízes, de modo que a cor vermelha subiu, através do tronco, até o fruto.
Enquanto isso, Tisbe, ainda trêmula de medo, e não desejando, contudo, desapontar o amante, saiu cautelosamente, procurando o jovem com aflição, ansiosa por contar-lhe o perigo que atravessara. Ao chegar ao local e vendo a nova cor das amoras, duvidou de que estivesse no mesmo lugar. Enquanto hesitava, avistou um vulto que se debatia nas vascas da agonia. Recuou, e um tremor percorreu lhe todo o corpo, como a água tranquila se encrespa ao ser atingida por uma lufada repentina de vento. Logo, porém, reconheceu o amante, gritou e bateu no peito, abraçando-se ao corpo sem vida, derramando lágrimas sobre as feridas e beijando os lábios frios.
— Píramo, quem te fez isto? — exclamou. — Responde, Píramo! E tua Tisbe quem fala. Sou eu, a tua Tisbe, quem fala. Ouve-me, meu amor, e ergue esta cabeça pendente! Ao ouvir o nome de Tisbe, Píramo abriu os olhos e fechou-os de novo. A donzela avistou o véu ensanguentado e a bainha vazia da espada.
 — Tua própria mão te matou e por minha causa — disse. — Também posso ser corajosa uma vez, e meu amor é tão forte quanto o teu. Hei de seguir-te na morte, pois dela fui a causa dela. E a morte, que era a única que nos podia separar, não me impedirá de juntar-me a ti. E vós, infelizes pais de nós ambos, não negueis nossas súplicas conjuntas. Como o amor e a morte nos juntaram, deixai que um único túmulo nos guarde. E tu, árvore, conserva as marcas de nossa morte. Que tuas frutas sirvam como memória de nosso sangue.
Assim dizendo, mergulhou a espada no peito.
Os pais ratificaram seu desejo e também os deuses.
Os dois corpos foram enterrados na mesma sepultura, e a árvore passou a dar frutos vermelhos, como faz até hoje.



1-      Você conhece a história de Romeu e Julieta? O que ela tem em comum com a história de Píramo e Tisbe?

2-      O mito é uma narrativa que revela a necessidade que os seres humanos têm de compreender o Universo como um todo. Às vezes, desejam compreender as forças que regem o destino; outras, a origem de um ser da natureza ou uma propriedade ou aspecto que apresenta. O texto que lemos apresenta uma explicação fantasiosa sobre a origem das amoras vermelhas. Qual é?                                     

3-      Você acha que o casal se comunicava por meio de bilhetes ou apenas oralmente? Justifique sua resposta.

4-      Em que parte do dia deveria ocorrer o encontro: de manhã ou de noite? Justifique sua resposta.

5-      Por que Píramo julgou que Tisbe estivesse morta?

6-      Como Tisbe descobriu que Píramo se matara por sua causa?
                                                                 
7-      Como termina a história de Píramo e Tisbe?

8-      Uma das características das narrativas místicas é a presença de deuses que conduzem a vida dos seres humanos e a natureza. Localize no texto um trecho em que isso acontece.

9-      Localize os parágrafos que se relacionam a cada segmento do enredo.
SITUAÇÃO INICIAL (relativa harmonia que existia antes de surgir a complicação)

COMPLICAÇÃO (momento de mudança que dá origem a novas ações)


AÇÕES (que ocorre em direção a um clímax)


CLÍMAX (momento de tensão máxima que leva ao desfecho)


DESFECHO (situação final da história que propicia a avaliação final subentendida ou clara)

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