domingo, 14 de fevereiro de 2016

O bom de ser criança. (Luís Fernando Veríssimo)


      Interpretação
O BOM DE SER CRIANÇA

            Acordo cedo e saio a caminhar pela casa. Entro na sala de estar, que ainda tem os destroços da festa. Papel de embrulho descartado, restos da algazarra que fizemos abrindo os presentes na noite anterior. Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado.
            Lembro que os presentes também tinham cheiro. Bola de futebol nova, por exemplo. As bolas eram de couro mesmo, com a cor natural e o cheiro do couro, e com cadarço. Você não sabia se já saía chutando a bola ou se guardava aquela preciosidade à salvo de chutes e arranhões, só para cheirar.
            Lembro que no mesmo Natal em que ganhei minha primeira bola de tamanho oficial ganhei outro presente: um kit com uma estrela de xerife, um revólver, um cinturão de caubói com coldre e um cilindro cheio de fitas de espoletas. Colocava-se uma fita de espoletas no revólver e acionava-se o gatilho, fazendo estourar as espoletas. Outro cheiro inesquecível do Natal, o de espoleta recém-deflagrada. Sem saber escolher entre um presente e outro, eu afivelei o cinturão (com babados no coldre) em torno do corpo franzino e saí abraçado com a bola e dando tiros, iniciando uma carreira inédita de jogador de futebol caubói, até a mãe ordenar que parasse porque ninguém conseguia conversar na sala. E foi nesse Natal que conheci o Papai Noel.
Tinham anunciado que naquele ano receberíamos o Papai Noel em casa.
Ele não deixaria apenas os nossos presentes, misteriosamente, como das outras vezes. Apareceria. Em pessoa! E à noite lá estava o Papai Noel batendo na nossa porta, e sendo recebido por mim, minha irmã, um primo e várias crianças da vizinhança, todos de boca aberta. Era ele mesmo, não havia dúvida. A roupa vermelha grossa, o gorro, a barba branca, as bochechas rosadas e o saco.
            O maravilhoso saco, de dentro do qual tirou nossos presentes - a bola de futebol, o revólver de espoleta, como ele sabia que era o que eu queria? Depois deu tapinhas na cabeça de cada um, disse qualquer coisa e desapareceu. Mais tarde entrei na cozinha e dei com o Papai Noel sentado, conversando com a cozinheira e tomando uma cerveja. Tinha tirado a máscara. Reconheci a sua cara suada: era o Bataclan, uma figura folclórica de Porto Alegre, um negro que fazia propaganda - "reclame", chamava-se então - na rua. Não lembro como eu racionalizei a revelação. Se deixei de acreditar no Papai Noel ali mesmo, se passei a acreditar que o Papai Noel, quando não estava em serviço, era o Bataclan, e vice-versa. Talvez não tenha concluído nada. O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.
                                                                                                                  Luís Fernando Veríssimo.
1-      O texto lido é:
a.(       ) uma fábula    b. (        ) uma crônica      c.(        ) uma notícia      d. (       ) um texto informativo

2-      Qual é foco narrativo do texto?
(       ) 1 ᵃ pessoa: narrador- personagem                 (          ) 3 ᵃ pessoa: narrador- observador
Justifique sua resposta com um trecho do texto.

3-      Quais são as personagens citadas no texto? E qual delas é a personagem principal?

4-      Onde se passa a história? Justifique sua resposta com um trecho do texto.

5-      Em que época do ano aconteceu os fatos narrados no texto?  

6-      Quem era Bataclan?

7-      Segundo o texto o que é reclame?
 a.       (        ) folclore.         b. (        ) algazarra     c.(       ) propaganda      d.(        ) reclamação

8-      Identifique no texto “O bom de ser criança”:
1-      Situação inicial- apresentação dos fatos.
2-      Conflito- o fato que muda a situação inicial
3-      Desenvolvimento- ações das personagens e suas consequências.
4-      Clímax- ponto máximo da narrativa que encaminha para o final
5-      Desfecho- final
a. (     )  “Acordo cedo e saio a caminhar pela casa.[...] Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado.” 
b. (    ) “Lembro que os presentes também tinham cheiro. [...] Lembro que no mesmo Natal em que ganhei minha primeira bola de tamanho oficial ganhei outro presente: kit com uma estrela de xerife, um revólver, um cinturão de caubói com coldre e um cilindro cheio de fitas de espoletas. [...] E foi nesse natal que conheci o Papai Noel. Tinham anunciado que receberíamos o Papai Noel em casa”. 
c. (     ) “E à noite lá estava o Papai Noel batendo na nossa porta, e sendo recebido por mim, minha irmã, um primo e várias crianças da vizinhança, todos de boca aberta. Era ele mesmo, não havia dúvida. [...] O maravilhoso saco, de dentro do qual tirou nossos presentes [...] deu um tapinha na cabeça de cada um, disse qualquer coisa e desapareceu.”
d. (   ) “Mais tarde entrei na cozinha e dei com o Papai Noel sentado, conversando com a cozinheira e tomando uma cerveja. Tinha tirado a máscara. Reconheci a sua cara suada: era o Bataclan, uma figura folclórica de Porto Alegre, um negro que fazia propaganda [...]”
e. (     ) “Se deixei de acreditar no Papai Noel ali mesmo, se passei a acreditar que o Papai Noel , quando não estava de serviço era o Bataclan, e vice-versa. Talvez não tenha concluído nada. O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.”
9-      Qual dos cinco sentidos faz despertar as memórias do personagem?

10-  O que o autor quis dizer com: “O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.”?
11- O que fez esse Natal diferente dos demais?

12- Relacione as palavras e expressões retiradas do texto aos seus significados:
a.         “boca aberta”                             (         ) prender 
b.         “corpo franzino”                        (         ) restos 
c.         “destroços da festa”                  (         ) confronta-se
d.         “afivelei o cinturão”                  (         ) admirados   
e.         “dei com Papai Noel”                (         ) magro     

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