domingo, 14 de fevereiro de 2016

Aquelas coisas de sempre (Luís Fernando Veríssimo)



AQUELAS COISAS DE SEMPRE
                                                                                                                                                                            Luís Fernando Veríssimo
Tenho inveja dos cronistas novos. Não porque eles não sabem que todas as crônicas de Natal já foram escritas e podem escrevê-las de novo. Mas porque podem fazer isto sem remorso.
Tem a crônica de Natal tipo “o que eu gostaria que Papai Noel me trouxesse”. A Luana Piovani ou um fac-símile razoável, a paz entre os povos, um centroavante para o Internacional (ou um fac-símile razoável) etc.
Tem as infinitas variações sobre problemas encontrados por Papai Noel no mundo moderno (seu trenó levado num assalto, sua dificuldade em se identificar em portarias eletrônicas, protestos de ambientalistas contra o seu tratamento das renas, suspeita de exploração de trabalho escravo, suspeita de pedofilia etc.).
Tem as muitas maneiras de atualizar a história da Natividade (Maria e José em fila do SUS, os Reis Magos chegando atrasados porque foram detidos por patrulhas israelenses ou militantes palestinos, Jesus vítima de uma bala perdida).
Tem as versões diferentes da cena na manjedoura, inclusive — juro que já li esta, se não a escrevi — narrada do ponto de vista do boi.
Todas já foram feitas.
Há tantas crônicas de Natal possíveis quanto há meios de se desejar felicidade ao próximo.
Os cartões de fim de ano são outro desafio à criatividade humana. Pois todas as suas variações também já foram inventadas.
Quando eu trabalhava em publicidade, todos os anos recebia encomendas de saudações de Natal e Ano Novo “diferentes”, porque os clientes não se contentavam em apenas desejar que o Natal fosse feliz e o Ano Novo fosse próspero.
Uma vez sugeri um cartão de Natal completamente branco com a frase “Aquelas coisas de sempre…” num canto, mas acho que este foi considerado diferente demais.
E dê-lhe poesia,  pensamentos inspiradores,  má literatura e a busca desesperada do diferente.
Um cartão em forma de sapato, de dentro do qual saía uma meia: a meia para o Papai Noel encher de presentes e o sapato para entrar no Ano Novo de pé direito. Coisas assim.
Enfim, tudo isto é apenas para desejar a você aquelas coisas de sempre…
Vocabulário:
Fac-símile [1] (do Latim fac simile = faz igual) é toda cópia ou reprodução de letra, gravura, desenho, composição tipográfica etc.[2]

1-      O texto lido é: (       ) fábula     (       ) notícia     (       ) crônica    (      ) texto informativo

2-      Qual é o tema do texto?  

3-      O texto é narrado em 1ᵃ pessoa  ou em 3ᵃ pessoa?   Justifique sua resposta com um trecho do texto.  


4-      Quem  é provavelmente o narrador do texto? 


5-      Qual o conflito vivido no texto? Justifique com um trecho do texto. 



6-      O que ele quis dizer com  “...desejar  aquelas coisas de sempre”?



7-      Dê o significado das palavras retirados do texto:

a.       Remorso                                                                      c. Natividade           
   b. Manjedoura                                                                  d. um fac-símile razoável

8-      Quantas e quais são as versões de crônica de Natal apresentadas no texto? 

9-      Quais as críticas feitas pelo cronista em:

a.       “... um centroavante para o Internacional (ou um fac-símile razoável

b.       “...Jesus vítima de uma bala perdida”.

c.       “Maria e José em fila do SUS”.

d.      “Papai Noel suspeita de exploração de trabalho escravo”.  


e.      “os Reis Magos chegando atrasados porque foram detidos por patrulhas israelenses ou militantes palestinos”.


10-   Na sua opinião,  por que o cartão Natal completamente branco com a frase “Aquelas coisas de sempre…” num canto, sugerido pelo personagem não agradou?


11-   Apesar do personagem dizer  “Os cartões de fim de ano são outro desafio à criatividade humana. Pois todas as suas variações também já foram inventadas.”, Crie um cartão de Natal  para  um colega.

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